Marcos Vieira de Souza
(Marcos Falcon)
Marcos Vieira de Souza, mais conhecido como Marcos Falcon, ou simplesmente
Falcon foi, sem dúvida, uma das personalidades mais importantes da história
recente do G.R.E.S. Portela. Sua breve passagem na condução da Majestade do
Samba, como Vice-presidente e, depois, como Presidente da escola, marcou o
renascimento da agremiação e abriu caminhos para o tão aguardado título de
Campeã, legítima, de 2017. Personagem forte, controvertida e aclamada, Marcos
Falcon é lembrado aqui como um de nossos baluartes por sua incansável dedicação
à escola e por tê-la guiado por caminho exitoso que continua sendo até o momento
trilhado com êxito.
Desde Natal, nenhum outro dirigente influenciou tanto, e para o bem, a escola de
Oswaldo Cruz e Madureira. Marcos Falcon nasceu no Rio de Janeiro, em 11 de
fevereiro de 1964 e morreu em 26 de setembro de 2016, assassinado, no bairro de
Madureira.
De sua vida pessoal, destacamos os filhos, três homens – Marcos Vinícius, Marcos
Falconi e Daniel – e quatro filhas – Marcele, Gabriele, Aline e Michele. Além
dos filhos, foi notória a sua união com a famosa Porta-Bandeira da Escola de
Samba Beija-flor, Selminha Sorriso (Selma de Mattos Rocha), sua viúva.
Falcon foi policial militar antes de se tornar dirigente de carnaval. Durante as
décadas de 1990 e 2000, em Oswaldo Cruz, Falcon ganhou fama de justiceiro, mas
nada se comprovou a esse respeito. Seu envolvimento com o carnaval foi gradual,
desde os tempos em que se tornou patrono da escola Rosas de Ouro, de Oswaldo
Cruz, até assumir o cargo de diretor de carnaval da Portela, em 2011.
Destaque-se que, em 2009, a Rosas de Ouro havia desfilado na Estrada Intendente
Magalhães com o enredo “Não há limite para o sonho. Quem ousa vence”. A frase
“Quem ousa vence” acabou sendo um dos lemas de Falcon.
Falcon já era Sargento da Polícia Militar, em 2011, quando assumiu o cargo
de gerente de carnaval da Portela. Era a época da gestão Nilo Figueiredo. Perdeu
seu cargo na escola quando foi preso, acusado de ligações com a milícia, sendo
absolvido em 2013, após nada ser provado, em uma investigação realizada pela
chamada Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das milícias. 2013 foi o ano que
marcaria definitivamente sua vida e inscreveria sua história nas páginas belas
da Azul e Branco de Oswaldo Cruz Madureira. Foi neste ano que começaram as
articulações para a criação da já lendária chapa Portela Verdade. Essa chapa,
além do que se conhece, registra uma bela história, ainda a ser contada por
todos os que participaram daquela aventura séria que deu origem a uma escola
renovada e potente.
Para nos dar conta de um desses relatos, a portelense Lucia Boudrini nos
relembrou alguns fatos mais conhecidos do público e nos contou outros, ainda não
revelados e que nos ajudam a compreender um pouco aquele momento especial, da
Portela e da vida de Falcon. Lucia Boudrini participou ativamente das
articulações iniciais da virada promovida por Falcon e sua equipe. Daquele
embrião, destacamos as famosas “feijoadas do Campo do Falcon”, que se tornaram
cenário inesquecível de um período de esperança que ali se iniciava. Lucia
participou da primeira feijoada que, inclusive, contou com a presença da então
Torcida Portelamor (hoje Grupo Portelamor). Naquele dia se decidiu realizar
mensalmente um encontro com feijoada. A partir desse primeiro encontro, houve
participações expressivas das torcidas e do público, em geral, para um evento
mensal que era aguardado pelos portelenses insatisfeitos com os rumos dados à
escola por Nilo Figueiredo.
Falcon sentiu a necessidade de unir as pessoas em um momento em que a
quadra da Portela já dava sinais de desgaste por conta da má administração. A
feijoada do Falcon, uma espécie de “feijoada B”, cresceu de forma gradual, até
se transformar em um importante evento mensal, atraindo grande público a
Campinho. Todo esse processo foi fundamental para a construção de um projeto de
recuperação para a Portela e que se transformou em símbolo de resistência e
esperança visando ao resgate do orgulho portelense, bandeira levantada por
Falcon.
Muitas foram as pessoas determinantes naquele momento: Rogério Rodrigues, Almir
Barbio, Felipe Guimarães, Paulo Renato – as quatro figuras mais decisivas, à
época –, além de Vanderson Lopes, Fábio Pavão, Marcelo Moura, dentre outros
nomes, como a própria Lucia Boudrini. Pedimos perdão aos que aqui não foram
citados, mas que certamente deixaram sua marca naquele momento especial.
Falcon encabeçou a criação da chapa Portela Verdade, que já contava com
expressivo apoio dos nomes supracitados e foi ganhando paulatinamente o apoio
dos portelenses, em geral. Mas o começo não foi fácil. A princípio, o grupo era
malvisto dentro da agremiação. Mas a vitória veio, embora por uma pequena margem
de votos, o grupo se elegeu e substituiu a desastrosa gestão Nilo Figueiredo. O
cantor, compositor e membro da Velha Guarda da Portela, Serginho Procópio,
encabeçou a chapa Portela Verdade e se tornou o Presidente da nova Portela, que
teve Marcos Falcon como Vice-presidente e Mestre Monarco como Presidente de
Honra. Eleita a chapa, o desafio era recuperar a escola.
Ainda de acordo com Lucia Boudrini, a situação era de terra devastada. Cada um
teve que levar seus notebooks e materiais de trabalho; não havia mesas,
cadeiras, materiais de consumo. Uma limpeza geral foi feita, na quadra e no
barracão na Cidade do Samba, que se tornara um depósito de lixo.
Cada companheiro levou sua experiência pessoal e profissional para a Portela.
Falcon gerenciou uma equipe de idealistas que, embora com o melhor dos
propósitos, ainda não tinha experiência efetiva na condução de uma escola de
samba. Marcos Falcon foi uma espécie de maestro. Conseguiu agregar aquele
conhecimento bruto em prol de uma administração competente, cujos resultados
vieram no primeiro desfile comandado pela equipe, em 2014. Segundo Marcelo
Hargreaves, “logo em seu primeiro carnaval, a nova administração surpreendeu
trazendo uma Portela altiva e que fez um desfile competitivo, como não
apresentava desde 2009. Contou a história do primeiro porto de escravos do Rio e
encantou o público. Num ano de desfiles fracos, poderia ter encerrado o jejum
ali. Mas era preciso convencer antes os jurados…”. 
Além da Portela, Falcon também participou ativamente no carnaval da Estrada
Intendente Magalhães, defendendo mudanças na organização dos desfiles lá
realizados. Em 2015, fundou a Associação Cultural Samba é Nosso, que passou a
organizar o carnaval dos grupos C, D e E, naquele local.
No ano de 2015 a Portela conquistou um quinto lugar com sabor de terceiro e nos
deu uma das imagens mais belas do carnaval, de todos os tempos: A Águia
Redentora mereceu da colunista do jornal O Globo, Rosiska Darcy de Oliveira, as
seguintes palavras: “Cariocas devem agradecer à Portela esse momento que entra
para a história da cidade como uma das mais belas evocações do Rio”. E
arrematava: “Este ano, do fundo da Sapucaí surgiu uma águia branca, redentora,
um Cristo alado pousado no asfalto, que atravessou a avenida fundindo no
simbolismo o carnaval e o próprio Rio. Águia com vocação de pomba da paz,
abrindo e fechando as asas em movimento protetor. Águia branca redentora,
livrai-nos da ganância que prostitui o carnaval”.

Sob o comando do carnavalesco Alexandre Louzada, 2015 repetia o excelente
desfile de 2014, mas falhas técnicas impediram novamente a vitória. Na avenida,
homens voadores desciam de paraquedas, repetindo o feito de 2014, que de tão
impactante, voltou em 2015.
A Portela trazia ainda um drone em forma de águia, outra inovação da
administração Falcon, além de apresentar alegorias que se se transformavam ao
longo do desfile, em diálogo com o enredo.
Em 2016, a grande novidade foi a contratação de Paulo Barros. Foi o ano da
aclamação de Falcon como Presidente da Portela, após Serginho Procópio ter
decidido não se candidatar à reeleição. Com belíssimo desfile, Paulo Barros não
conquistou de imediato os jurados, mas deu à escola um terceiro lugar com sabor
de vitória. O grande momento se deu em 2017, mas a vitória tão aguardada teve
sabor amargo. A alegria se misturou à dor de uma ausência.

Após a eleição de Falcon, em 2016, já com enredo definido e durante as
eliminatórias do samba-enredo, Falcon anunciou que seria candidato a vereador
pela cidade do Rio de Janeiro, pelo PP – Partido Progressista. Faltando menos de
uma semana para a eleição, Marcos Falcon foi assassinado em Madureira, próximo a
seu comitê de campanha, crime até hoje sem solução. Sua morte foi uma tragédia
que abalou os alicerces dos portelenses, mas, segundo seu filho Falconi, “ele
não era só um líder, mas também um bom gestor”, o que permitiu à Portela seguir
organizada, unida, rumo à vitória de 2017.
Não queremos fechar essa homenagem com a nota triste de uma morte que, embora
brutal, não apagou a passagem de Falcon pela Águia Altaneira. Lembrando as
palavras de Lucia Boudrini, Falcon era homem de grande vitalidade, incansável,
desde os primórdios de 2011. Era sua característica marcante, além da capacidade
de captar o melhor das pessoas e situações, revertendo-as em favor da escola.
Lucia destaca em Falcon a qualidade de ouvir, de estimular seus auxiliares. Foi
parceiro e foi firme em suas ações. Para Lucia, todos aprenderam muito com
Falcon e ele também aprendeu muito com as pessoas que o cercaram, homens e
mulheres talentosos e que, embora neófitos, levaram a escola ao ansiado pódio
com sua competência.
Da quadra sem luz e água, do barracão abandonado, dos péssimos carnavais
apresentados na avenida, a Portela se tornou referência de competência
administrativa. Projetos como os de Sócio Torcedor foram pioneiros, além da
intensa atividade cultural que lá se desenvolveu, dentro e fora da escola.
Em princípio malquistos, a equipe liderada por Falcon mostrou capacidade e
determinação para reconduzir a Portela ao lugar de onde jamais deveria ter
saído: o panteão das campeãs: campeã da superação, da amizade, do encontro, do
amor à escola e do amor a Falcon, no dizer de Lucia Boudrini.
Dentre as muitas homenagens, em 2016, também durante uma feijoada, a diretoria
da Portela anunciou que Falcon teria seu nome eternizado no barracão das
alegorias do G.R.E.S Portela, na Cidade do Samba. O espaço se chama hoje Fábrica
de Sonhos Presidente Marcos Falcon. Além disso, um busto de Falcon foi
inaugurado em 19 de outubro de 2017, no Portelão. Para Luis Carlos Magalhães,
“tudo de bom que está acontecendo na Portela hoje tem nome e sobrenome: Marcos
Falcon”.
Para encerrar, ficamos com as palavras de Boudrini para Marcos Falcon, caso ele
pudesse ouvi-las, hoje. Elas resumem essa homenagem: “Se eu pudesse encontrar o
Falcon hoje, eu falaria para ele o seguinte: irmão, você foi cedo, mas você
deixou um legado bonito”.
Gratidão, Marcos Falcon.
Avante, Portela!!!
Referências:
BOUDRINI, Lucia. Depoimento à Portelamor. Disponível em
www.portelamor.com.
DUART, Solange. Chapa Portela Verdade, de oposição, ganha eleições na escola.
ACESSO EM 27 DE DEZEMBRO DE 2018.
FALCON, Marcos.Acesso em 16 de dezembro de 2018.
HARGREAVES, Marcelo. O longo caminho que levou a taça de campeã de volta à
Portela. Disponível em: Acesso em 10 de janeiro de 2019.
OLIVEIRA, Rosiska Darcy de. A águia redentora. Disponível em:
Acesso em 25 de janeiro de 2019.
PORTELA. Emoção marca cerimônia de inauguração do busto de Falcon na Portela. Disponível em: Acesso em 22 de janeiro de 2019.
REZENDE, Sidney (Da redação). Com três votos de diferença, Procópio é eleito
Presidente da Portela. Disponível em: Acesso em 29 de dezembro de 2018.
RODRIGUES, Mateus. Missa de sétimo dia lota a quadra da Portela. Disponível em: Acesso em 30 de dezembro de 2018.
SATRIANO, Nicolás; TEIXEIRA, Patrícia. Marcos Falcon, Presidente da Portela, é assassinado a tiros no Rio. Acesso em 05 de janeiro de 2019.
