Dona Esther (Esther Maria Rodrigues)
É preciso ter raízes bem fincadas no chão de Oswaldo Cruz e Madureira, no terreiro da Portela, para ser um Majestoso. Uma Majestosa, no caso. E que mulher é essa, que no início do século migrou para as terras azuis e brancas, deu um nó na sua condição de mulher e de sujeito subalterno e se tornou ícone de toda uma geração, símbolo de uma história com tantas páginas belas? Estamos falando de Esther Maria Rodrigues, ou Esther Maria de Jesus, mas, para muitos, ela é simplesmente, Dona Esther. Alguns textos grafam seu nome Ester. Nascida em 14 de fevereiro de 1896, Tia Esther faleceu em 22 de dezembro de 1964, aos 68 anos.
Seria exagero dizer que sem ela não haveria a Portela? Ou que era uma espécie de Tia Ciata (Hilária Batista de Almeida, Santo Amaro da Purificação, 1854 – Rio de Janeiro, 1924) do subúrbio? Exageros e comparações infrutíferas à parte, aquela mulher inteligente, alva e bela, de talhe aristocrático, foi uma das figuras centrais dos primórdios da história da Portela e fundamental para sua fundação. Segundo Marco Antônio Martins Júnior (2012, p. 43), “a partir da década de 1910 começaram a chegar pessoas da classe média que vinham do Centro da Cidade, como foi o caso de Paulo Benjamin de Oliveira, de dona Esther Maria Rodrigues e de Napoleão José do Nascimento, pai de Natal da Portela”. Somente em 1921, dona Esther e seu marido, Euzébio Rocha, chegam a Oswaldo Cruz, vindo de Madureira ou Turiaçu. O casal morou inicialmente na rua Joaquim Teixeira, mudando-se depois para uma casa nova, na Rua Adelaide Badajós, em um grande terreno que em breve se transforma no local mais importante do bairro. É preciso anotar que antes da mudança para Oswaldo Cruz, o casal havia fundado o cordão “Estrela Solitária”, que se firmou no Largo do Neco, localidade situada entre Turiaçu e Madureira. No cordão, dona Esther desempenhou a função de Porta-Estandarte e seu marido a de Mestre-Sala. Lá, germinava a semente do carnaval que mais tarde daria origem a tantas glórias. A ida do casal a Oswaldo Cruz ocorreu após rompimento com o antigo cordão.
Embora não seja unanimidade, a versão aceita hoje é que o batismo da Portela foi realizado por dona Esther. A escola foi consagrada à Nossa Senhora da Conceição, Oxum no sincretismo da Umbanda, que passa a ser a madrinha da Portela, junto com São Sebastião (Oxóssi) como padrinho, hoje o padroeiro da bateria da azul e branco de Oswaldo Cruz e Madureira.
As festas de dona Esther eram antológicas, como já se disse, mas sua contribuição maior para a Portela foi a criação do bloco “Quem fala de nós come mosca", considerado o primeiro embrião da Portela. Sua inspiração para a criação do "Baianinhas de Oswaldo Cruz" seria a segunda grande contribuição de dona Esther. O bloco de dona Esther desfilava somente em Oswaldo Cruz, era formado por crianças e tinha autorização da justiça para desfilar. Muitos portelenses dos primórdios da escola frequentavam as festas de dona Esther. Era na segurança de seu lar e sob sua proteção que os sambistas tiveram mais um espaço de convívio, manifestação e difusão de sua arte.
Dona Esther concentrou em sua casa o núcleo do que viria a ser a mais importante agremiação do carnaval carioca. Para muitos, Tia Esther está para a Portela assim como Tia Ciata está para a consolidação do samba no Centro do Rio de Janeiro e para a história do ritmo. É uma espécie de matriarca da Portela e do bairro de Oswaldo Cruz e sua importância é reverenciada por todos os que amam a Águia Altaneira e o samba.
Salve dona Esther, a Tia Esther, nossa matriarca. Axé!
Bibliografia recomendada:
MARTINS JÚNIOR, Marco Antônio. Foi um rio que passou em minha vida: Portela representações e sustentabilidades em Madureira. Rio de Janeiro, 2012. 116p. Dissertação de Mestrado – Departamento de Geografia, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.
http://aladebaianas.com.br/i/memorias/81-dona-ester-uma-pioneira-da-portela.html.
